É preciso se submeter a esperar, em um beco mal iluminado, pela abertura da única bilheteria destinada à torcida botafoguense. Resultado: quase nove da noite e a fila dobrava o quarteirão, PARA COMPRAR INGRESSO!
Depois da espera, já dentro do Independência, bem no alto do estádio, de novo a constatação que a vista não é tão privilegiada no setor reservado aos visitantes. Pelo contrário: mesmo o tempo todo em pé, é impossível ver a linha lateral do campo – bancos de reserva, então, só na imaginação. Os pontos cegos dificultam a visão e nos fazem perder as reações dos técnicos durante a partida. Sim, meus caros: você paga R$ 50 e não consegue enxergar o campo inteiro. Bem-vindos ao Brasil, o país da Copa do Mundo.
Por outro lado, é muito reconfortante estar com centenas de torcedores desgarrados de todas as gerações e origens – achei que havia bem mais botafoguenses nessa partida do que no jogo contra o Cruzeiro, também no Independência, no ano passado. Uma torcida que não para de cantar, de provocar, de aplaudir e de se impor, sem jamais se intimidar – muito pelo contrário: se houve um vencedor fora de campo, foi a torcida do Botafogo. Apareceu até um torceor baiano, residente há quatro anos em BH com um Seedorf sorridente, que imprimiu o rosto do Clarence em folha A4 e colou num recorte de papelão. A montagem do Tarcísio fez sucesso e ganhou muitas fotos.
Foi o único momento em que a torcida pôde ver o holandês. E a ausência dele, ainda que inesperada mas compreensível, foi decisiva para o revés final.
Sobre o jogo em si, vi ao vivo o que todos puderam ver pela tevê: um Botafogo que jogou melhor quando fez seus dois gols, um Botafogo que recuou demais e tomou dois gols. O resultado, definido nos acréscimos, foi cruel – mas espelhou o que aconteceu na partida. O Galo resolveu acordar para o Brasileirão justo contra a gente, e brigou pela vitória o tempo inteiro.
Faltou, no fim, a liderança de Seedorf para fazer o tempo passar no campo do adversário, como ele fez contra o Vasco. Fazer cera, como Jefferson fez, não é a tática mais inteligente para quem deseja manter uma vantagem. E acho que jogadores como Mattos e Bolívar poderiam desempenhar esse papel de forma mais eloquente.
Mas, por outro lado, lá do alto também vi um time muito brioso, lutador, com garotos que, mesmo inexperientes, se agigantam em campo – destacaria Gilberto, Dória e Gabriel, três moleques que cansaram de desarmar o RG10. Lodeiro, apesar de alguns erros banais de passe, também suou e foi premiado com um belíssimo gol.
Foi um resultado ruim? Descartando a frustração final, até que não – enfrentamos o campeão da Libertadores, em casa, e com o time completo. Como disse um PM mineiro, na saída para um colega: “Seedorf não jogou e eles só deixaram empatar no último minuto? Que time encardido, sô!”.
É, o Botafogo é um time encardido. E que está impondo respeito por onde passa. Estamos nos acostumando a enxergar os adversários do alto da tabela, e isso incomoda. Vamos em frente.
Agora é a vez de Brasília fazer sua parte no estádio com o nome mais apropriado do planeta. Todos ao Mané Garrincha!
Fonte: Fogo Eterno